Para refletir!

"Cada dia a natureza produz o suficiente para nossa carência. Se cada um tomasse o que lhe fosse necessário, não havia pobreza no mundo e ninguém morreria de fome". Mahatma Gandhi

O gatinho rejeitado

Pensamento: “As pessoas mais felizes não têm as melhores coisas. Elas sabem fazer o melhor das oportunidades que parecem em seus caminhos.” Clarice Lispector

Mensagem: O gatinho rejeitado

Dona Senhorinha vivia só com seus quatro gatinhos, num casarão que herdou dos pais.
Seus bichanos, todos muito brancos e cuidados com grande esmero, ocupavam quase todo o seu tempo.
Senhorinha queria imensamente bem aos seus gatinhos; tinha somente uma queixa: eles eram bastante preguiçosos e passavam o dia a dormir, a comer e a brincar. Aos poucos a casa foi se enchendo de baratas, sem que os bichanos se importassem com isso.
Num dia de faxina, ao passar pelo pátio, de avental, lenço na cabeça e vassoura na mão, Senhorinha deparou com a cena habitual: os gatinhos em roda, riam, saltavam e cantavam: “Atirei o pau no rato-tô, mas o rato-tô não morreu-rreu, Senhorinha-nhá, admirou-se, do gritô, do gritô que o rato deu... quiiii...!
Senhorinha, muito cansada e irritada, pensava nas baratas passeando livremente pela casa, enquanto seus gatinhos, folgados, brincavam despreocupados e resolveu repreendê-los severamente.
- Seus gatinhos preguiçosos! Eu os trato, os alimento para vocês estarem ai ociosos? As baratas se mudaram para o nosso casarão; escutem aqui, seus malandrinhos, não vão dar um jeito, não?
- Mas Senhorinha, nós não sabemos caçar – diziam eles em coro.
- Pois tratem de se virar; se não limparem a casa, para a rua eu os vou mandar!
Os bichanos respondiam em coro:
- Senhorinha, seja paciente! As baratas são asquerosas; são sujas e repelentes e, além de tudo isso..., voam prá cima da gente! (e faziam um gesto como de avião passando).
Senhorinha enfurecida, disse:
- Pois comecem a caçar; se não acabarem com elas, com vocês vou acabar!
Senhorinha retirou-se bastante contrariada, enquanto os preguiçosos continuavam o seu lazer:  “atirei o pau no rato-tô...” De repente, perceberam em um canto do pátio, um gatinho cinzento, magro, com cara de fome, todo encolhidinho. Rodearam o forasteiro e puseram-se a zombar dele, levantando-lhe as orelhas.
- Gato feio! Pelo sujo! Orelhas grandes! Fora, fora! Aqui você não vai ficar; se teimar, uma surra irá ganhar!
Senhorinha, apressada, quis saber o porquê daquela gritaria.
- Um gatinho assustadinho! De onde foi que apareceu? O bichano colocou-se timidamente diante dela e suplicou-lhe:
Dona Senhorinha, eu sou um gatinho só; não tenho dono nem lar. A senhora poderia me ajudar? O meu nome é Chaninho e sei caçar muito bem; se a senhora me acolher, limparei sua casa!
- Faça isso, meu gatinho – respondeu Senhorinha – que eu vou lhe recompensar e estes gatos mimadinhos vou mandar para a rua!
Foi Senhorinha alimentar o Chaninho e depois mostrou-lhe os lugares onde as indesejáveis baratas costumavam aparecer.
Enquanto isso, os quatros bichanos retomavam sua alegre brincadeira, continuando a comer e dormir. Dias mais tarde, Senhorinha não cabia em si de contente.
- Esse gatinho é um herói; é de se admirar: acabou com as baratas; vou ficar só com ele e vocês (disse aos gatinhos branquinhos) seus preguiçosos, já podem se retirar. Nunca mais pretendo vê-los! Aqui não podem mais morar!
Choramingavam os quatro gatinhos aos pés de dona Senhorinha:
- Mas, senhora Senhorinha, quem vai nos alimentar? Não sabemos caçar ratos e baratas nem um pouquinho! Quem vai tratar nosso pelo? Quem nos vai dar o leitinho?
Senhorinha respondeu-lhes:
- Pois a mim isso não importa! Vão saindo e depressa, antes que eu perca a paciência e os enxote, ora essa!
Os bichanos choramingavam cabisbaixos, quando Chaninho falou:
- Dona Senhorinha, deixe os gatinhos ficar, que eu prometo ensiná-los a caçar bem direitinho!
Os quatro gatinhos rodearam o Chaninho e diziam suplicantes:
- Irá mesmo nos ensinar? Como poderemos lhe pagar?
- Sendo muito obedientes – respondeu Chaninho -, esforçados, pacientes; terão que vencer o nojo para poderem caçar e a dona Senhorinha bem contente vai ficar!
Os bichanos puseram-se a aplaudir o Chaninho e disseram:
- Formamos uma família. Estaremos todos juntos. Isso é uma maravilha!
Os cinco gatinhos, em roda, quiseram comemorar e a cantiga predileta se puseram a cantar:
“Atirei o pau no rato-tô, mas o rato-tô não morreu-rreu, Senhorinha-nhá, admirou-se, do gritô, do gritô que o rato deu!”

Texto extraído do livro Contos para contar - Thereza Iglésias

Programa exibido em 15/07/11!

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