Para refletir!

"Cada dia a natureza produz o suficiente para nossa carência. Se cada um tomasse o que lhe fosse necessário, não havia pobreza no mundo e ninguém morreria de fome". Mahatma Gandhi

O Pato Penão

Pensamento: "O segredo é não correr atrás das borboletas. É cuidar do jardim para que elas venham até você” Mário Quintana
 
Mensagem: O Pato Penão
 
Havia numa determinada fazenda um pequeno reino chamado Avelândia. Era uma cidadezinha composta por galinhas, patos, marrecos, gansos, passarinhos, corujas e aves de todos os tipos. Ali não havia brigas nem tumultos. Todas as aves se respeitavam e procuravam ajudar-se mutuamente. No conjunto dos patos cidadãos de Avelândia, havia um que se destacava por seu tamanho avantajado e suas grandes penas. Seu nome era Penão, talvez devido às suas penas maiores do que as comuns em patos. Penão era muito estimado por todos em Avelândia, porque possuía um grande coração. Era bem educado e amável com todos alegre e sempre bem humorado. Gostava de contar fatos divertidos que os faziam rir e isso era motivo para todos buscarem a sua companhia. Quando o Penão faltava em alguma reunião de amigos, alguém logo mandava um franguinho ou pato jovem à sua casa, para ver se algo havia sucedido. Penão era sempre apresentado como modelo, quando os pais queriam educar seus filhos. Os mais jovens costumavam dizer: “Quando crescer, quero ser igual ao Penão!” Os moradores de Avelândia sentiam-se orgulhosos por tê-lo como conterrâneo. Seus pais estavam muito satisfeitos com ele, pois era trabalhador, honesto e prestativo: quando alguém adoecia em Avelândia ou se acidentava, lá estava o Penão oferecendo os seus serviços. Todos diziam: Que ave feliz!”
Mas Penão tinha uma grande mágoa: a de não saber cantar! Quando tentava, saia apenas grasnados roucos e sem graça. Alguns pintinhos, ainda não educados lhe diziam: “Nós lhe damos nossa ração de farelo, mas, por favor, não cante!” Penão meneava a cabeça e se afastava desconsolado. Como gostaria de poder cantar como o mestre Cocoricó, que todas as manhãs acordava Avelândia com o seu belo canto. Ou como os sabiás do velho abacateiro; como o rouxinol da pitangueira que dava verdadeiros shows com sua garganta de ouro. Os pais em vão tentavam consolar o Penão: - Filho, isso não é um defeito! O Criador fez tudo bem; cada qual tem suas qualidades! E você tem tantas!... Quem é mais estimado do que o Penão em Avelândia?
- Sim, papai; sim, mamãe – dizia ele com sua voz rouca e grossa -, mas não é proibido tentar!
Matriculou-se, então , no conservatório do mestre Cocoricó. Todos os dias, fazia inúmeros exercícios de voz, sem nada conseguir. O professor Sabiá tentou com ele outros tipos de exercícios; também o professor Rouxinol, e tudo sem resultado. Com grande pesar, mestre Cocoricó teve que lhe dizer: - Sentimos muito, amigo, não há mais nada que possamos fazer!
Penão agradeceu o esforço dos amigos e, bastante aborrecido, retirou-se para a mata. Do alto de uma árvore, dona Coruja cumprimentou-o: - Olá! Há quanto tempo! Tudo bem com você, Penão?
- Olá! Dona Coruja amiga! – respondeu ele – A senhora está me vendo?
- Não - disse ela – corujas não enxergam durante o dia, mas conheço o barulho de seus passos!
- Que pena que a senhora só enxergue à noite – disse ele!
- Pois é, Penão, durante muito tempo, eu me senti infeliz e envergonhada por esse motivo; não tinha coragem de me aproximar das pessoas e geralmente me escondia no galho mais alto que encontrasse. Com o passar do tempo, percebi que tinha uma grande vantagem podendo enxergar à noite; conseguia socorrer os passarinhos e as corujas que sofressem algum acidente, quando escurecia. Então entendi que o Criador fez tudo muito bem!
- A senhora agora falou como os meus pais – disse ele!
- Mas diga-me, Penão! Por que está tão triste? Algo o preocupa?
- Dona Coruja – respondeu ele -, sinto-me muito infeliz! Gostaria de poder cantar como o mestre Cocoricó, ou como esses rouxinóis que encantam a mata, mas não posso!
- Meu bom amigo – disse ela-, não se pode ter tudo o que se quer! Tantos em Avelândia gostariam de possuir um terço de suas virtudes. Como pode sentir-se infeliz, numa cidade onde o querem tão bem! Até quando um frango, galinha ou pato é condenado à panela, você sabe tão bem confortar a família: “Viveu e morreu com dignidade! Consolem-se! O Criador nos fez para servir ao homem e o homem para servir ao Criador”. Não é assim que você conforta as famílias, amigo?
Penão, cabisbaixo, já não respondia; estava por demais deprimido.
- Penão – disse dona Coruja – tive uma idéia!
- Qual? – o pato perguntou com sua voz grossa e rouca.
- Descubra as suas qualidades – respondeu ela! – Isso mesmo! Você já tem muitas, mas sempre se pode descobrir outras!
- Ora!... – disse Penão enjoado.
Insistiu dona Coruja: - Tenho aqui um bandolim que era do meu pai; uma sanfona do meu avô e um cavaquinho que pertenceu ao meu tio! Dou-os a você; veja se têm aptidão para tocar alguns deles! Você não é bom para cantar, mas pode ser para tocar!
Penão sempre teve dona Coruja na conta de sábia e uma esperança nova invadiu seu coração. Agradeceu imensamente e, com os instrumentos em baixo das asas e a sanfona amarrada às costas, voltou ao conservatório do mestre Cocoricó.
Em pouco tempo, não havia instrumento que Penão não tocasse; não só tocava, como compunha belas músicas, demonstrando ter ótimo ouvido. Mestre Cocoricó e o professor Rouxinol estavam maravilhados. Dessa data em diante, eram freqüentes as festas em Avelândia. Penão organizou uma verdadeira orquestra, que era regida por mestre Cocoricó.
No dia do aniversário de Dona Coruja, Penão organizou uma grande parada. Todas as aves se vestiram, de festa e assim que escureceu, (porque Dona Coruja só enxerga à noite) começou a festança que durou até de madrugada. Dona Coruja mal continha a emoção. Os pais de Penão estavam felicíssimos, porque o filho se havia esquecido de sua antiga mágoa. Mestre Cocoricó e os demais professores do conservatório não escondiam seu orgulho por tão brilhante aluno. Quando seus pais completavam anos ou os seus mestres, Penão organizava uns shows que faziam Avelândia vibrar.
Anos depois, mesmo contra a sua vontade, Penão foi escolhido por unanimidade, prefeito de Avelândia. Cada vez era mais estimado e agradecido a todos que o haviam ajudado a superar suas dificuldades. Mandou fazer (às suas custas) uma boa casa para Dona Coruja e sua irmã. A todos que vinha a ele com algum problema Penão se esforçava em ajudar, afim de que descobrissem suas qualidades. Seus filhinhos cresceram em Avelândia e, como o pai, eram todos muito estimados por galinhas, patos, gansos, marrecos e passarinhos daquela cidade.
 
Texto extraído do livro Contos para contar (Thereza Iglésias)

Programa exibido em 14/07/11!

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